Estamos convictos que uma solução para esta crise do emprego assenta na criação de uma Sociedade do Lazer viabilizada por uma redução gradual da carga horária de trabalho para cerca de metade ou seja entre 4 a 5 horas, redução a ser executada gradualmente e adaptada às circunstâncias e culturas específicas de cada zona económica, libertando o restante tempo para aprendizagem de tudo o que possa ser útil ao ser humano, desde o conhecimento de uma boa nutrição até ao conhecimento do seu próprio corpo e mente, de forma a elevar o nível de saber, tanto quanto possível, em simultâneo em todas as noções, gerando uma consciência mundial e absorvendo esse excedente de mão-de-obra, que continuará a crescer com a entrada de novas tecnologias, agora agravado pela diminuição do consumo que terá de ser mantida. Em resumo, a aquisição de todas as competências possíveis.No nosso conceito, a sociedade do lazer será uma área que já existe de uma forma incipiente e que deverá ser assumida de uma forma nova e estruturante e com objectivos a serem alcançados faseadamente.A sociedade do lazer é uma área emergente e que decorre da libertação das horas de trabalho……universidade aberta…áreas de turismo…apetecível….férias com cultura e utilidade…edutainment…Isto porque não há necessidade de trabalhar 8 horas para produzir excedentes desnecessários.Dá utilidade aos laureados … que podem continuar a passar os seus conhecimentos nestas universidades abertas, a custo zero e a preço zero… o laureado não recebe as suas aulas, nem paga as suas férias porque a universidade vai atrair pessoas que querem evoluir, ganhar competências nas mais diversas áreas do saber e ter férias úteis, sendo os diversos hotéis que recebem estes alunos que suportarão a estadia dos diversos e sucessivos professores laureados.Lazer…Cria uma zona de absorção de excedentes já hoje existente, tanto mais que estudos recentes demonstram que quer no sector privado, quer no sector público, embora não na mesma proporção em todos os sectores de actividade, das 8 horas (área dos serviços e intelectualidade) correspondentes aos 100% do tempo de trabalho, a maior produtividade é alcançada em 20% desse tempo, isto é 1,6 horas e no restante tempo, o restante, isto é, 80% do tempo de trabalho é inútil.Se seguirmos as actuais tendências, as perspectivas gerais para o futuro não são apesar disso muito encorajadoras, principalmente se as previsões baseadas na avaliação do impacto nos postos de trabalho, da designada “engenharia simultânea” (concurrent engineering) e “reengenharia”, se verificarem.A “engenharia simultânea” é um sistema para encurtar o tempo total de produção através do trabalho simultâneo em várias dessas fases de produção.A “reengenharia” constitui um novo meio de melhoria da produtividade através de múltiplas formas técnicas e humanas de “reorganização do trabalho”. Inclui a aplicação de controlos de inventários momentâneos (just in time), a todas as fases do funcionamento da empresa, aplicação essa tornada possível graças ao equipamento de processamento de dados avançado e massivo que as empresas instalaram no decurso das últimas décadas.Implica ainda a criação de grupos de trabalho, procedimentos de descentralização do poder, reorganização de linhas de montagem e de instalações e recurso ao exterior.Num artigo dedicado à reengenharia, o Wall Street Journal Europe, de 19 de Março de 1993 referia que, ninguém estabeleceu ao certo as prováveis ramificações políticas e sociais da reengenharia, mas algumas estimativas apontam para:A perda de 25 milhões de postos de trabalho americanos.O que significa, aproximadamente, 1 a 2 milhões de postos de trabalho por ano, nos próximos 15 a 20 anos.O mesmo artigo cita as opiniões de John C. Sherrit, accionista e administrador da ex-Andersen Consulting e hoje depois de vários reajustes na Accenture: “Podemos ver muitas e muitas formas de distribuição de emprego, mas não conseguimos ver onde possam ser criados postos de trabalho.”Perante tais condições não será surpreendente observar o ressurgimento de um grande debate, nomeadamente nos EUA e na Europa, sobre o papel da inovação tecnológica no crescimento do desemprego e sobre a potencial solução para a crise do pleno emprego, representada pela redução do horário de trabalho, conjugada com medidas de partilha de trabalho.Haverá mesmo um divórcio entre o crescimento económico e o emprego?Começamos a resposta com uma pergunta…Haverá mesmo divórcio entre liberalismo económico e “well fare state”?Na opinião que subscrevemos não há divórcio, que o mesmo é dizer que as situações não são inconciliáveis (contudo existiu um período no pós-guerra mundial, principalmente nos EUA e na Alemanha em que essas políticas estiveram bastante conciliadas, vide período “anti-trust” e anti-cartelização, respectivamente) pelo simples e complexo facto do ser humano ser predador, nomeadamente quando actua apenas guiado pelo instinto.Como prova do instinto predador acima referido, lembro o seguinte:Até hoje, não há conhecimento que algum governo, de algum país, quer ele pertença ao bloco Norte/Sul segundo um critério de base económica, ou ao bloco Leste/Oeste segundo um critério de base política, tenha proposto, e muito menos implementado, um regime relativo aos descontos obrigatórios da Segurança Social, de completo liberalismo!Ou seja, um regime onde os trabalhadores por conta própria ou por conta de outrem fossem livres de descontar para o regime geral de segurança social, ou melhor dizendo, onde os descontos deixassem de ser obrigatórios.Para os que defendem o liberalismo como um valor absoluto, esta gigante excepção não poderia ser tolerada, tanto mais que se fala aqui da liberdade humana por um lado, e por outro a famosa mão invisível do mercado, que tudo regularia, restabelecendo-se sempre que necessário o equilíbrio perdido.A razão profunda que leva a não alargar o princípio do liberalismo a todos os campos, incluindo o social, prende-se exclusivamente com o facto de, justamente o SER HUMANO ser, pelo menos por enquanto, muito predador, sendo inclusive, o maior e pior inimigo de si próprio.Por esta razão, os políticos em geral, sabem que, se a obrigatoriedade de desconto fosse anulada, a generalidade das pessoas, em nome da disponibilidade maior que teriam em cada receita laboral, lançariam mão dessa “solução” e a prazo cairiam na rede do sistema e afundá-lo-iam.Por isso, sempre que entregue aos seus instintos primários, ele tende para essa vertente predadora.Por essa razão é impossível:…aplicar regras desse tipo de capitalismo em países sem instituições democráticas fortes que moderem ou evitem manifestações desse instinto primário…e deixar que o capitalismo actue num regime assente quase exclusivamente na força, sem um mínimo de regras justas, é o mesmo que promover, na modalidade do velho “far-west”, isto é sem regras, um combate entre um peso pesado e um peso pluma……por tudo isto, constato que os sistemas económicos, e por via deles os sistemas políticos, atravessam períodos de grandes destabilizações, sendo necessários mecanismos de travagem, perante esta aceleração descontrolada de um sistema liberal que tudo cilindra, e de que tudo lança mão (argumentos racistas e xenófobos incluídos), em nome de uma pretensa competitividade……daí aceitarmos, embora transitoriamente, que os grandes especuladores mundiais possam ter um papel “positivo” quando atacam as debilidades das moedas que escolherem para especular, dado que nos actuais contextos, estes se apresentam como sendo as únicas forças de actuação imediata que podem fazer face à manipulação do valor dessas moedas, uma vez que estão sujeitas a valores inflacionados, sujeição esta derivada da inabilidade de governação, e consequente necessidade de novos endividamentos, ou da capacidade manipulativa dessas governações, devida a conveniências políticas de grupos de poder…através de actuações concertadas nacional e internacionalmente…Os espectadores, são, por assim dizer, as “oposições monetárias internacionais”. Esta qualificação não custa a aceitar se não nos esquecermos que os primeiros fazedores de inflação são os próprios governos.Cabe aqui uma nota a propósito da inflação, saída do discurso frontal do então Primeiro-Ministro de Portugal, Eng.º António Guterres, proferido na Assembleia da República em Fevereiro de 1997 e onde se pode ler o seguinte:” Sejamos corajosos, a inflação é um imposto, que transfere riqueza dos mais pobres para os mais ricos.”Como exemplo do que se teorizou, veja-se o que aconteceu no Ruanda onde o FMI, em vez de apoiar o pequeno sucesso que o Ruanda vinha experimentando, em nome dessa pretensa liberdade económica, lhe impôs regras que não puderam ser aplicadas naquele deserto institucional, provocando por isso um genocídio, mascarado para o exterior com rosto de luta tribal.